A aparência de uma pessoa adormecida - olhos fechados, imobilidade, resposta reduzida a estímulos - parece transmitir uma falsa impressão de marasmo, inoperância e "perda de tempo". Mas se pudéssemos assistir aos fenômenos que se desenvolvem quando fechamos os olhos, ficaríamos impressionados com a complexidade dos acontecimentos ali encobertos. Muita coisa acontece nos bastidores do sono, dividido em fases com ou sem movimentos dos olhos, atividade elétrica cerebral variada, sonhos mais ou menos bizarros, alterações cardíacas, do tônus muscular, etc, repetindo-se em ciclos de aproximadamente 70 minutos, durante toda a noite. Se a arquitetura for executada adequadamente, sem várias interrupções (despertares), acordaremos reparados fisiológicamente, dispostos cognitivamente e tranquilos emocionalmente. Em se tratando de crianças, este processo se torna ainda mais relevante, necessitando elas de um sono em maior quantidade e qualidade (horários regulares, dormir sem tv ligada, sem respirar pela boca, temperatura adequada no quarto).
Então, como conciliar a necessidade fisiológica de dormir, aprimorada em milhares de anos, com as peculiaridades da modernidade - uma programação "infantil" ininterrupta na televisão, intermináveis conversas na internet, jogos eletrônicos com intrincadas e excitantes estratégias? Como permitir que crianças e adolescentes ocupem as noites com atividades de entretenimento, dormindo após às 22 ou 23:00h, em detrimento de uma necessidade psicobiológica e, no outro dia, acordem às 06:00h, espontaneamente e com disposição para as demandas escolares, esportivas, sociais e familiares do dia? Como esperar que eles consigam, sem respeitar o próprio funcionamento, tirar o melhor de si para aprender o que é extensamente falado pelos professores?
Embora ainda não esteja "tirando o meu sono", inquieta-me ver tal situação, pela crescente dificuldade familiar de se estabelecer horários de sono, mas sobretudo de distinguir atividades, eventos e comportamentos infantis, dos adultos.