Um pouco frustrado por não fazer a colheita desejada, não demorei muito e fui almoçar com familiares. No final da tarde, regressando para Maceió, encontrei os rotineiros malabaristas no semáforo, tentando descolar um trocado. Um pouco mais a frente, numa marquise de uma grande loja, um amontoado de adolescentes me chamou a atenção: maltrapilhos e com uma aparência pré-histórica, eles se envolviam numa briga feroz. Uma mão segurando um garrafa de plástico com cola de sapateiro e a outra com uma grande pedra, dois garotos se ameaçavam intensamente. A agressividade estampada nos olhos e corpos imundos, o jeito como se movimentavam e a excitação do grupo para ver quem seria o mais forte foi algo chocante! Uma bizarra situação que parecia mais uma cena de documentário do History sobre civilizações primitivas. Só que estava acontecendo no século vinte e um e eu estava presenciando. Estava testemunhando pessoas - como eu e meus filhos - vivendo e se comportando como animais selvagens; usando substâncias psicoativas, que causam danos até irreversíveis nos circuitos cerebrais responsáveis pela aprendizagem e pelo controle dos impulsos; eu estava assistindo à ausência total do Estado e o resultado de décadas de irresponsabilidade e desumanidade dos nossos representantes e gestores públicos (referendados pela nossa conveniente conivência), numa disputa eterna para ser o macho alfa.
Gostaria muito de poder continuar presenciando cenas de comportamento selvagem apenas nos saguis e não em pessoas, que as disputas ficassem nos estádios e quadras esportivas, que a urbanidade predominasse no ambiente urbano, e que pudéssemos ser mais eficientes em identificar nuances de condutas animalescas, extinguindo-as civilizada e democraticamente.
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