sábado, 16 de abril de 2011

Prestando atenção

       Há três dias, quando realizava uma palestra para os pais, no COC, falando sobre as características e alterações da atenção, bem como os prejuízos na vida escolar do estudante, algumas perguntas "me chamaram a atenção": quando devemos considerar preocupante um  comportamento de não prestar atenção, ficar alheio ou no "mundo da lua"? Em outras palavras, como diferenciar uma dificuldade de um transtorno de atenção? Perguntaram também:  como um estudante pode ser desatento para a a atividade acadêmica e concentrado para que o interessa(vídeo game, computador, etc)? Inicialmente é importante esclarecer que a quantidade de estímulos percebidos a cada segundo - visuais, auditivos, táteis, olfativos, gustativos -, e o fluxo de pensamentos e sentimentos presentes em cada momento são superiores à capacidade do cérebro  de processá-los conscientemente. Para isto é necessário selecionar os estímulos mais relevantes, ignorando os demais. É  atenção! Consequentemente, quando uma pessoa não consegue realizar a escolha e fica vagando entre os estímulos, disperso, alterando sua prontidão mental, dizemos que existe uma dificuldade na atenção. Noites mal dormidas, alterações hormonais, distúrbios ansiosos e de humor, alguns medicamentos e stress podem ocasionar um período menos concentrado nas atividades, diminuindo a aprendizagem, a produtividade e provocando até esquecimento . Porém, nestas situações o prejuízo não se restringe à atenção, atenuando também a memória, funções executivas, dentre outras habilidades mentais. Mas, quando uma pessoa apresenta um comportamento recorrente de intensa limitação em priorizar estímulos, discrepante com o potencial cognitivo demonstrado, produzindo desavantagem no desempenho de atividades escolares, familiares e sociais, desencadeando sofrimento psíquico no estudante, temos então o transtorno de atenção.
      E a diferença de atenção que o aluno manifesta entre a aula de matemática e o jogo no computador? Bem, aí já não é só atenção! O critério que o aprendiz utiliza para considerar uma tarefa relevante e, consequentemente, ficar concentrado, envolve aspectos cognitivos e emocionais.  E, lá nos porões da subjetividade, a lei dominante é a busca por sensações prazerosas e contíguas. Por isto, talvez para a maioria dos estudantes, a motivação em realizar uma atividade que propicia uma experiência imediatamente agradável (sites de relacionamento, jogos, festas) é bem mais intensa e impactante no comportamento que o interesse em desenvolver uma tarefa geralmente monótona, repetitiva e pouco palatável (estudo, aula). Cabe então à família, na rotina dos hábitos diários, geralmente também monótonos, repetitivos, contribuir para que o filho desenvolva a capacidade de adiar o prazer e tolerar a frustração.  Assim como é imprescindível a avaliação e o tratamento multiprofissional no Transtorno de Atenção/Hiperatividade (TDA/H), também é fundamental um ambiente familiar genuíno, onde os integrantes aprendam, entre outras coisas, a amansar o ímpeto e excitar o bom senso. Em tempos de tantas ofertas - brinquedos, entretenimentos, atividades, comportamentos, relacionamentos -, esta habilidade é essencial para se aprender os ensinamentos da escola e, principalmente, da vida