quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Renovando o ar

      Após um longo período longe dos rabiscos, retorno - mais enferrujado e endurecido no manejo com as palavras - a comentar certas informações e acontecimentos. Foram mais de dois meses sem escrever uma linha, embora não faltassem assuntos que me provocassem questionamentos, incômodo ou encantamento. Andando nas ruas, lendo algo, assistindo à tv, convivendo com familiares e amigos, e atendendo no consultório: várias vezes fiquei fora do ar por alguns instantes diante de algo que merecia uma maior atenção e ponderação. Mas, mais uma vez, no meio da multidão fiquei mergulhado no fluxo de atividades do dia-a-dia. Na correria de final de ano, foram várias providências, festividades, viagem, férias,  preguiça... E tive momentos bem agradáveis, rodeado de pessoas queridas, cenários paradisíacos, mas sentindo também falta dos meus outros momentos, com os meus botões... É quando aspiro outros ares e tento visualizar o horizonte. Semelhante a uma baleia que, para viver bem embaixo d'água, precisa regularmente emergir para respirar. É um afastamento da correnteza cotidiana. E parece que está cada vez mais veloz e difícil de não ser engolido por ela. Será pelo acúmulo de atividades, sejam físicas ou mentais, que estamos acrescentando no nosso dia? Ou pelo volume aparentemente excessivo de informações que dizem que precisamos obter? De vez em quando escuto alguém dizer que gostaria que o seu dia tivesse mais de 24 horas ou ainda que seria muito interessante se ela fosse duas pessoas ao mesmo tempo, para poder realizar todos os projetos idealizados. Estamos impregnados de velocidade: na crescente dificuldade de permanecermos sossegados quando não há o que fazer, quando não conseguimos controlar o volume e rapidez dos nossos pensamentos, na impossibilidade de suportar a espera da vitória, no breve período que saboreamos as sensações agradáveis e na pressa angustiante que desejamos o término do sofrimento (existem coisas que estão fora do nosso controle e tem o seu ritmo próprio). E é bom lembrar que, na nossa mente, um evento (estudar, trabalhar, viajar, comprar) não é simples e rapidamente salvo numa pasta, como num computador. A situação é primeiro vivenciada emocionalmente e compreendida cognitivamente. Em seguida é editada e vagarosamente memorizada, associada a outros eventos semelhantes. A conotação afetiva (alegria, tristeza, raiva, medo) que atribuímos a cada episódio  não só influencia a percepção e memorização dessa experiência, mas repercute no funcionamento geral da mente, interferindo nas percepções e decisões que ocorrerão em seguida. De alguma forma todo conteúdo adquirido por nós passa a fazer parte da gente. Sendo assim, precisamos ficar mais atentos à qualidade do que presenciamos, seja nos relacionamentos, na mídia ou nos escritos. Porém, na rapidez com que passamos nossos dias é pouco provável que consigamos refletir e selecionar. Por isso, temos que evitar permanecer muito tempo na vazão dos episódios, para não ficarmos presos às correntes. Que cada um encontre o seu jeito de emergir e respirar, aproveitando para contemplar a paisagem.