domingo, 11 de setembro de 2011

Pessoas inteligentes, mas indiferentes?

     Há vários dias a imprensa vem divulgando repetidamente  os atentados terroristas do dia 11 de setembro de 2001, nos EUA, apresentando detalhes dos sequestros dos aviões, da destruição total das torres gêmeas e parcial do pentágono. Desde as características dos sequestradores, com a preparação (técnica e emocional) até o planejamento e execução das ações. Foi realmente impressionante! Como um grupo de pessoas consegue invadir a casa do inimigo e, com as suas próprias armas, ocasionar tamanho estrago? Como uma organização consegue causar um dano tão intenso na maior potência econômica e bélica do planeta? Como superar um país com a maior tecnologia do mundo e com um check in tão rigoroso nos aeroportos? Com inteligência! Quanto mais nos informamos dos bastidores dos atentados, mais evidente fica a refinada elaboração dos planos de Bin Laden e cia. Com criatividade, capacidade de planejamento, flexibilidade mental, operacionalidade, controle de impulsos e monitoramento, eles executaram uma das ações  mais audaciosas dos últimos tempos. Sim, realmente eles foram muito espertos! Com inteligência, eles mataram quase três mil pessoas, afundaram os americanos num gasto de bilhões de dólares em dez anos e intensificaram o medo na população (pesquisas indicaram um aumento dos casos de transtornos depressivos e de ansiedade após os atentados nos EUA). Para muitos estas considerações podem ser absurdas e insensíveis - "isto não é inteligência, e sim maldade!" - mas, infelizmente isso é inteligência, ou pelo menos corresponde a alguns tipos, já que parece que temos vários (Gardner identificou a existência de múltiplas inteligências, como a lógico-matemática, linguística, cinestésica, interpessoal, intrapessoal, entre outras). 
      Assim como a inteligência, as outras habilidades cognitivas - memória, linguagem, funções executivas - são amorais, ou seja, destituídas de valores de conduta. São ferramentas a serviço de algo estrutural no comportamento humano: as emoções. Sendo assim, podem ser usadas tanto para construtir como para destruir, agregar ou separar, criar ou matar, apaziguar ou aterrorizar. Historicamente as habilidades cognitivas têm servido ao primitivo e intenso desejo de poder da humanidade, não só nas grandes batalhas, guerras, roubos e atentados, mas também no cotidiano de muitos adultos e crianças. Da África ao nordeste brasileiro, milhões de pessoas sofrem diariamente com a miséria, a violência e a indiferença de homens inteligentes. Aqui, bem perto da gente, mais de um milhão de alagoanos sobrevivem sem alimentação adequada, assistência médica e educação. E muitos dos nossos representantes e gestores têm altas habilidades cognitivas - inteligência privilegiada, memória prodigiosa, fluência verbal invejável -, com passagem em bons colégios e um currículum impecável. Outros, menos afortunados nestas capacidades, possuem um carisma contagiante ou um espantoso poder de articulação. Com tudo isso, os frequentes desvios de verbas e merendas, os assassinatos, os serviços públicos sucateados e a corrupção fazem com que o nosso estado permaneça eternamente na turma do fundão nas avaliações sociais e econômicas, sendo comparado pela revista inglesa The Economist com o Afeganistão, país devastado e acusado de ter abrigado Osama Bin Laden. Em nossas casas também nos deparamos com as brigas e mentiras dos nossos habilidosos e promissores filhos, pelo poder da nossa atenção. Na escola comportamentos agressivos, apelidos constrangedores com colegas, a chacota com o diferente, a resistência em obedecer regras, o desinteresse pela história. E nós, pais, estimulando cognitivamente nossos filhos com aulas particulares, cursinhos, intercâmbio, escola de línguas,  para que eles fiquem bem preparados para o competitivo mercado de trabalho. Mas, o que estamos realmente preparando? Será que estudantes, profissionais, gestores inteligentes, mas pessoas indiferentes? Determinados e competentes em progredir e atingir metas, em detrimento do prejuízo e sofrimento alheio? Empreendedores, porém descontrolados? Desejo ardentemente que esta postagem xiita se exploda pelos exageros cometidos!