domingo, 23 de outubro de 2011

São só garotos...

     Ontem e hoje foram realizadas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), onde milhares de jovens em Maceió - além de outros milhões no país -  finalizaram uma longa e penosa jornada, com meses de estudo, deixando de lado alguns prazeres cotidianos e arrastando o peso da concorrência. Com eles, os pais também percorreram ansiosos a trajetória, relembrando em alguns momentos a própria história. Na terra dos marechais, como em outros estados do nordeste, a ansiedade foi maior pela desvantagem de estarem numa região brasileira desfavorecida academicamente, tendo que disputar vaga para a universidade pública federal com  estudantes de centros privilegiados em termos educacionais. E nestes dois dias, enquanto os alunos usavam suas ferramentas cognitivas - linguagem, memória, inteligência - por várias horas,  compreendendo enunciados, recuperando informações  e resolvendo problemas, seus familiares torciam bastante, exercitando suas ferramentas emocionais - fé, controle da ansiedade e dos pensamentos automáticos.  As escolas, por outro lado, pressionadas pelos seus próprios resultados e pelos pais, tentaram corresponder os anseios dos seus clientes e diminuir a desigualdade regional, intensificando os conteúdos e tornando as avaliações mais complexas. Para incrementar a situação, o restrito leque de opções de trabalho que Alagoas oferece, com uma iniciativa privada incipiente, contribui para estreitar o funil de oportunidades, conferindo muitas vezes ao curso universitário o status ilusório de garantia de sucesso profissional. Quem já passou dos 30 sabe que a realidade é bem diferente e que, perto de outras situações que enfrentamos e que eles enfrentarão na busca do lugar ao sol, a prova do ENEM não é nada mais que uma prova. Precisando considerar estes e outros aspectos, os estudantes têm que optar rapidamente. Mas eles são muito jovens! São menores decidindo a vida profissional do adulto! Uma atitude que implica em autoconhecimento, desejo, compreensão da realidade, planejamento, controle de impulsos e flexibilidade mental. Habilidades associadas às regiões frontais do cérebro e raramente desenvolvidas plenamente antes dos 20 anos. Isso não quer dizer que a reflexão e o compromisso não devam ser estimulados e solicitados dos adolescentes, mas que não se pode exigir que eles realizem imediatamente escolhas desta complexidade sem dúvidas e correções, porque são só garotos...