domingo, 18 de setembro de 2011

Como é mesmo o seu nome?

      Ontem pela manhã, chegando na academia, encontrei um irmão de um amigo que há muito tempo não o via. Após cumprimentá-lo, recordamos alguns episódios da nossa infância, mas não lembrei do nome dele. Durante a conversa, relembrando os eventos remotos, tentei fisgar alguma pista que me levasse ao nome do rapaz, sem sucesso até agora. À tarde, chegando numa festa de aniversário para buscar o meu caçula, fui me despedir do pai do aniversariante - que, por sinal, já esteve em minha casa - mas, novamente o nome não saiu. Que chatisse! Ouvir o outro pronunciar o nosso nome geralmente é muito agradável, mas perceber que ele esqueceu, não. Parentes, amigos e inúmeros pacientes  também relatam o mesmo problema: gravar o nome das pessoas!
      Em Os Sete Pecados da Memória, Schacter explica que o nome de uma pessoa, expontaneamente, revela muito pouco sobre o indivíduo. Saber que fulano é Igor, Artur ou Luciana não indica imediatamente característica alguma delas, dificultando associações e comprometendo a memorização. Consequentemente, não se forma uma exuberante rede semântica, ficando apenas um único e penoso caminho para a recordação. Diferente do substantivo comum - computador, casa -, que é possível estabelecer facilmente uma representação visual e conceitual: computador é algo retangular, resistente, elétrico e serve para digitar dados. Além disso, os substantivos comuns têm os sinônimos, que suprem no esquecimento: na falta de casa, posso falar residência ou moradia. Já Igor é totalmente diferente do Artur, que contrasta com a Luciana. Dois pecados da memória podem explicar este fenômeno: o bloqueio e a distração. No bloqueio o nome foi memorizado mas, por falta de atalhos, sua recordação se torna trabalhosa. Expressões como "tá na ponta da língua" ilustram o ocorrido. Na distração a pessoa, sem perceber, não prioriza a escuta do nome, direcionando sua atenção para outra situação mais urgente ou interessante, tendo como resultado a falha na codificação da informação e a ausência do armazenamento. Ansiedade, alterações do humor, stress e débito de sono podem intensificar tais situações. E pra complicar um pouco mais a busca da palavra, existe ainda o fenômeno chamado "irmãs feias" (em referência à história da Cinderela, quando as irmãs feiosas, filhas da madrasta, tentam impedir que a moça calce o sapato, escondendo-a e se antecipando forçosamente para o principe): quando tentamos arduamente lembrar do nome do conhecido, sugem outras palavras intrusas na cabeça, dando uma falsa sensação de verdadeira. Aí chamamos Amanda de Ana ou João de Adão. Geralmente são palavras com alguma semelhança na forma ou na sonoridade. 
     Mesmo considerando a imensidão de relacionamentos reais e virtuais estabelecidos atualmente, é possível minimizar esses incovenientes, evitando um possível constrangimento. Inicialmente é necessário prestar mais atenção no momento da apresentação, demonstrando um esforço cognitivo de criar intencionalmente uma associação entre o nome da pessoa com alguma característica dela (física, emocional) ou com algo/alguém conhecido (Adão - bigodão; Ana - mesmo nome de uma tia; João - nome de um grande papa). É essencial também repetir várias vezes o nome do indivíduo durante os primeiros segundos da conversa de apresentação, facilitando a retenção. Desta forma se ativa mais intensamente a região do giro frontal inferior esquerdo do cérebro, aprimorando a codificação e, consequentemente, a memória. Porém, parece que o mais difícil é se conscientizar que é preciso fazer algo e não acreditar - como eu - que os nomes vão surgir por geração espontânea ou fazendo força, para não correr o risco de ser forçado a pronunciar aquela desagradável pergunta: como é mesmo seu nome?

Nenhum comentário:

Postar um comentário