domingo, 2 de outubro de 2011

Idoso, vá procurar a sua turma!

      No auditório da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, dezenas de pessoas, a maioria entre sessenta e setenta anos, demonstraram disposição juvenil no Curso de Envelhecimento Ativo, perguntando sobre memória, atenção, Alzheimer e outros distúrbios psiquiátricos. Isto ocorreu na quarta-feira passada, quando apresentava a disciplina Memória e Envelhecimento. Como professor do curso de psicologia que fui, sempre me entusiasmei com a motivação da turma, mas o interesse manifestado por esses alunos foi tão numeroso quanto a idade deles. Durante a apresentação uma estudante me perguntou como evitar a perda da memória e aproveitei para dizer que, entre outras coisas, o fato de estarem ali buscando conhecimento já seria também um comportamento protetor para a retenção, permanecendo conectados à vida. Lembrei que há pouco tempo atrás a realidade do idoso era outra: para a maioria com mais de sessenta anos, a vida se apagava rapidamente na aposentadoria, restando apenas algumas visitas a familiares e médicos e sentar no trono do apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar (Raul Seixas). Nos últimos cinquenta anos não só a expectativa de vida aumentou (em 1960 era de 54 anos e 2010 de 73 anos), mas principalmente a expectativa da vida também cresceu, ou seja, as pessoas fazem mais planos, estudam, viajam e trabalham (embora, como toda turma, existem os que ficam alheios ao novo conhecimento e se isolam nos seus pensamentos e frustrações). E apesar de enfrentarem dificuldades - familiares, financeiras, na saúde -, estão vivendo mais e com melhor qualidade. Assim é a minha turma do Envelhecimento Ativo, que faz parte do grupo que mais cresceu na última década, segundo os resultados do Censo de 2010 (IBGE), correspondendo a 12 % da população brasileira, sendo mais de 20 milhões de pessoas. Detalhe: muitos deles são responsáveis financeiramente pelo domicílio que residem, tendo sob seus cuidados filhos, netos e outros parentes. A tendência é que assumam, cada vez mais, um papel de destaque na sociedade brasileira, transformando-se numa força trabalhadora, eleitoral e de consumo, influenciando mais decisivamente não só nas decisões políticas, mas também na produção e serviços oferecidos. Provavelmente teremos então produtos mais saudáveis nas prateleiras dos supermercados, programas de televisão com entretenimento e informação responsáveis, edificações e vias públicas adaptadas, além de uma maior cobrança das políticas públicas (saúde, educação, transporte, segurança). Isso não quer dizer o envelhecimento santifica as pessoas e que seremos felizes para sempre, até porque existem aqueles que, segundo minha mestra gaúcha Mirna Português, "apodrecem mas não amadurecem" - Paulo Maluf foi acusado, ao setenta anos, de desviar cerca de um bilhão de reais de obras; no interior de Alagoas um grupo de idosos foi preso acusado de pedofilia. Mas acredito intensamente que o aumento da população idosa venha favorecer os avanços sociais no Brasil e atitiudes mais consequentes no mundo  - já que é um fenômeno que vem acontecendo em vários países. Por isso, jovens que cresceram sem veículos na garagem, televisão, celular, computador e internet, juntem-se, continuem aprendendo e sendo atuantes, porque nós precisamos de vocês!

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