domingo, 4 de setembro de 2011

O cultivo da cognição

      Segunda-feira passada estive num colégio infantil para observar um garoto que, segundo seus pais, já apresentava dificuldades escolares no jardim II. Como geralmente faço, após algumas informações com a equipe técnica da escola, permaneci por alguns momentos na sala, acompanhando silenciosamente as atividades desenvolvidas pela professora. À medida que a tia realizava as atividades - rodinha, leitura da estória da Chapeuzinho Vermelho, lanche coletivo -, pude identificar restrições importantes no desenvolvimento do garoto, principalmente na linguagem, atenção e na socialização. Apesar da intensa plasticidade cerebral presente nos primeiros anos da criança, ocasionando mudanças constantes no seu comportamento, bem como do início cada vez mais antecipado da vida escolar do estudante, alguns distúrbios - transtornos globais do desenvolvimento -, principalmente o espectro autista, precisam ser precocemente diagnosticados e estimulados, a fim de diminuir possíveis prejuízos cognitivos, sociais e funcionais. Entretanto, o diagnóstico dos transtornos de aprendizagem - dislexia, tda/h, discalculia, etc - precisa aguardar um pouco mais de tempo, sendo adequado por volta dos sete ou oito anos de idade.
      Voltando à sala de aula, havia outra coisa que me chamava a atenção naquele ambiente: eu estava presenciando a preparação do solo e a semeadura das funções mentais! A professora oferecia aos alunos atividades ricas em estímulos sensoriais e motores: antes de iniciar a estória, entoava uma música para os alunos ficarem em silêncio; durante a leitura da Chapeuzinho provocava variações no timbre da voz e na sua expressão facial, emocionando a turma; em determinados momentos solicitava que os alunos fizessem movimentos com os braços e pernas, fazendo-os vivenciarem a atividade; depois, no lanche coletivo, pedia que estudantes imaginassem os alimentos contidos nas embalagens, em seguida mostrava-os, pedindo que fossem cheirados, nomeados e degustados. Durante todas as tarefas ela aproveitava para incluir noções de espaço, tempo, quantidade e formas.  Embora não tenha permanecido até a hora do banquete, fiquei plenamente satisfeito e encantado em presenciar as funções cognitivas sendo preparadas e semeadas, através da variada e repetida sequência de atividades sensóriomotoras, adubando a mente com percepções visuais, auditivas, táteis, cinestésicas, olfativas, gustativas e emotivas. A partir de uma fértil percepção brotarão ou se desenvolverão as habilidades cognitivas - memória, inteligência, linguagem, funções visuoespaciais, visuoconstrutivas e executivas -, fazendo florescer a aprendizagem, tendo como frutos a interação - com o outro e com o mundo -  e o conhecimento.

Um comentário:

  1. Olá, gostaria de fazer algumas perguntas pra você, muito interessante seu blog, você poderia me passar o endereço do seu e-mail?

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