segunda-feira, 19 de março de 2012

Vivenciar, compartilhar e reutilizar

     A cada minuto, milhões de pessoas postam suas vidas - ou o que gostariam que fosse – nas redes sociais on line (Facebook, Orkut, Twitter, Msn, etc); são imagens, mensagens, notícias, piadas, banalidades, demonstrando uma necessidade que vem crescendo na mesma proporção que o uso da internet: a de compartilhar. Dividir com alguém sua rotina, diversões, viagens, projetos, reflexões e aspirações, numa busca de interação, acredito. Os meus traços autísticos não me tornam um frequentador assíduo das redes  virtuais, mas eventualmente tenho boas surpresas quando me aventuro por estas áreas.
      Há dois anos, pelo Orkut, localizei amigas da minha adolescência que não tinha contato há mais de vinte anos. On-line, foi possível me reaproximar de pessoas que as circunstâncias da vida dificilmente fariam reencontrá-las, pois uma estava morando no Rio de Janeiro e outra na Índia. Reencontrei também lembranças agradáveis do científico - para os mais jovens, ensino médio - com os colegas, as festas, viagens e campeonatos de handebol (lembrei também dos momentos de estudo, busca de informações, entretenimento - bem menos que os da nova geração -,  e dos treinamentos esportivos, responsabilidades em casa, disciplina familiar - bem mais que os de hoje).
      Ontem minha esposa - esta sim, frequentadora de carteirinha do Facebook - comentou que uma colega de faculdade teria retornado a Maceió e publicado algumas fotos daquele tempo (expressão verbal de quem já dá indícios de envelhecimento). Ao vê-las, mais uma vez fui tomado por recordações da juventude, iniciando o curso de psicologia - entre 1990 a 1994. Não faltava descontração, disposição física, curiosidade e vontade de conhecer coisas novas (poucas, para ser mais preciso). Fiquei surpreso em identificar colegas da turma que já não mais lembrava. Apesar das fotografias serem antigas, o entusiasmo e a alegria envernizavam os nossos rostos juvenis, desprovidos ainda das marcas e rugas dos anos. Por alguns instantes voltei no tempo, visitando alguns lugares e vivendo novamente certas situações. Como diz meu filho, "foi massa!" Percebi então que a vivência de ocasiões prazerosas tem duas imensas utilidades: no presente, quando experienciamos e nos deleitamos com o momento, e no futuro, quando recuperamos a lembrança e novamente vivenciamos aquelas emoções.
      Continuando no túnel do tempo, fui navegando para o futuro, construindo o cenário dos meus 80 anos - em 2049 -, a partir dos depoimentos dos idosos conhecidos (pais, pacientes). Torcendo para que até lá uma bala perdida não me encontre, assim como um alcoolizado no volante ou uma doença preocupante, fiquei imaginando situações que gostarei de lembrar na terceira idade. Como o desenvolvimento  e encaminhamento dos filhos e familiares, recordações de lugares exóticos visitados, trechos de postagens do blog, fisionomias e nomes dos colegas, características da mente humana e, principalmente, o que fiz no dia anterior (senão posso estar com Alzheimer e aí não há presente ou passado que se sustente).
       Enquanto isso, que nas próximas décadas eu possa construir um patrimônio de recordações de boa qualidade, reservas de momentos gratificantes, para serem utilizadas nos instantes de abatimento, e que as redes sociais promovam mais encontros genuínos, entrelacem  pessoas e recuperem experiências esquecidas. Mas sempre ligado que, antes de compartilhar, é preciso vivenciar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário