segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A perda de uma inteligência privilegiada

     Desde o final da minha adolescência vinha escutando suas músicas, inicialmente em disco de vinil e fita K7, depois em cd, DVD e pen drive. Apesar de gostar da música nacional  - Roberto Carlos (preferencialmente as músicas antigas), Djavan, Fagner, Luis Gonzaga, Kid Abelha, Martinho da Vila e vários outros -, a música internacional sempre teve um lugar de destaque nos meus momentos de ouvir um som. Mesmo considerando a histórica e intensa influência da cultura norte-americana no nosso país e, consequentemente, nas nossas preferências, a minha inclinação em escutar faixas numa língua pouco ou até desconhecida – correndo o risco de está perdendo o tempo com uma peça textualmente rudimentar - é também uma necessidade de fazer da música mais um momento de contemplação do que de reflexão: esvaziar a mente e preenchê-la com o arranjo harmônico da voz humana com os instrumentos musicais. A maneira como ela manipulava os sons parecia que estava brincando, com tanta versatilidade e refinamento vocal que poderia até dispensar o acompanhamento e, mesmo assim, hipnotizava quem a escutasse. Numa voz extraordinária, o seu cantar arrepiava - como em "I Will Always Love You" -, modificando as ondas elétricas cerebrais de qualquer um. Era o canto de uma sereia!. Estou falando de Whitney Houston, artista norte-americana falecida no último dia 11, aos 48 anos de idade e sepultada ontem em Nova Jersey (EUA). Uma cantora que  teve a  morte antecipada possivelmente pelos problemas com o uso de drogas - assim como outras milhares de pessoas em todos os continentes, menos famosos, mas também muito queridas pelos seus familiares e amigos. Uma diva da música que espantou os males de milhões de ouvintes com destreza nas cordas vocais, com a sua inteligência particular, mas afogou-se nas próprias dificuldades. Passamos bons momentos juntos e, em vários deles, fui compreendendo (acho) o fenômeno da inteligência - assim também quando acompanhava o desempenho de pessoas no esporte, nas artes, na ciência. Um tema que tem provocado divergências ao longo da história, com entendimentos ora mais ora menos abrangentes  mas, nos  últimos anos, tem se fortalecido na hipótese da existência de inteligências múltiplas (Gardner, 1985): linguística, lógico matemática, cinestésica, interpessoal, intrapessoal e musical. Entretanto, seja com movimentos, números, emoções, palavras ou sons, compreendo que um ato inteligente precisa obrigatoriamente envolver duas etapas: compreensão e manipulação. A compreensão,  com uma ampla e eficiente capacidade de percepção e discriminação de estímulos (visuais, auditivos, táteis, olfativos, gustativos, cinestésicos, emotivos) e a manipulação, com o manuseio criativo destes estímulos, transformando-os num drible desconcertante, na elaboração de um texto emocionante ou na interpretação musical impecável. É improvável que uma pessoa com inteligência cinestésica tenha restrições na percepção das nuances dos movimentos corporais, que um exímio escritor ou jornalista tenha déficit em diferenciar semântica e fonologicamente as palavras ou que uma cantora como Whitney não conseguisse discriminar, explícita ou implicitamente, as notas musicais, com suas oitavas e sustenidos. Não se pode manipular com excelência (e com isso resolver problemas) o  que não é compreendido, discriminado. Mas, como compreender a perda prematura de  W.H. e de outros que contribuíram para o nosso bem estar?  Minha limitada capacidade intelectual não é suficiente para resolver um problema desta dimensão,  restando apenas continuar me deleitando com  suas músicas, e que ela descanse em paz...

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