sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pequenas escolas, melhores oportunidades, grandes cidadãos

      Antes de entrar no lava jato, precisando dá um destino para umas moedas que tanto barulho faziam no carro, parei numa barraquinha de balas e pipocas e ofereci as pratas em troca de cédulas, acreditando que o vendedor teria interesse nelas para facilitar o troco. Estranhei quando ele me respondeu que não queria as moedas (geralmente os comerciantes as procuram), mas impressionado mesmo fiquei quando ele me justificou, respondendo  que não tinha ainda R$ 6,00 (seis reais) para trocar comigo. No caminho, ainda envergonhado com aquela realidade social, trafegando numa rua de casas bem simples, observei outros inúmeros pequenos comerciantes na própria casa, transformando a garagem, a sala ou o jardim num balcão de negócios. Encontrei de tudo: lanches, bebidas alcoólicas, cigarros, gás, água mineral, miudezas, frutas, verduras, entre outras coisas. Porém, mais do que a variedade de produtos oferecidos, o que me chamou atenção foi a quantidade de vendas (local de pequeno comércio) encontradas numa única rua; a concorrência era acirrada! Rapidamente me lembrei das pesquisas do Sebrae sobre a falência prematura de empresas nos primeiros anos, por falta de planejamento, conhecimento do mercado... Fiquei imaginando então a fragilidade destas “empresas caseiras” e, embora desconhecesse os dados estatísticos deste contexto, apostei que a maioria era insustentável economicamente. Com os meus botões, tentei enfatizar o esforço das pessoas em tentar aumentar a renda familiar, mas não foi suficiente para impedir o pesar do provável fracasso comercial de tantas famílias. E pensar que outras pessoas, recebendo indenizações, PDV, empréstimos, FGTS iniciam repentinamente um negócio e, pouco tempo depois, lucram apenas dívidas e frustrações. Não raro a reduzida escolaridade e transtornos cognitivos não diagnosticados também são encontrados neste grupo de trabalhadores. Vale lembrar que as capacidades mentais – inteligências, linguagem, memórias, funções visuoespaciais e executivas – são necessárias não só na resolução de problemas matemáticos e filosóficos na sala de aula, mas também na identificação de problemas, no planejamento, execução e monitoramento das soluções da vida, sendo decisivas no desenvolvimento das relações afetivas, sociais e profissionais. E vai mais além: na edição de fevereiro da Revista Mente e Cérebro, o artigo “inteligência para viver mais” afirma que “quanto mais baixo o nível intelectual de uma pessoa, maior o risco de ela ter uma vida mais curta, desenvolver doenças físicas e mentais e morrer de problemas cardiovasculares, suicídio ou acidente”.  Já nas pesquisas sobre Demência de Alzheimer, não é novidade que a baixa escolaridade é um fator de risco para o desenvolvimento da síndrome. Por isso a escolarização, além de promover justiça social - permitindo um ganho superior aos míseros  R$ 6,00 por meia diária -, é a maior possibilidade de aprimoramento das habilidades mentais e, sua restrição resulta em vulnerabilidades físicas e psicológicas; provoca um grande desperdício de economias e, sobretudo, de potencial humano.
                                                                               


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