domingo, 1 de abril de 2012

A sabedoria das dificuldades

      Esta semana atendi uma criança de 10 anos de idade, com queixa  - segundo os pais - de intensa dificuldade na aprendizagem, principalmente na leitura. Sua mãe demonstrava intensa angústia pelo comprometimento da filha na escola, manifestando ainda grande expectativa pela avaliação que se iniciava, ansiosa por um tratamento que tornasse a garota uma boa estudante. A paciente, manifestando entusiasmo e adequada habilidade social, parecia não se incomodar tanto com o seu desempenho acadêmico. Infelizmente, através dos instrumentos utilizados, a dificuldade que era percebida pelos pais como algo isolado na linguagem, foi se revelando como um transtorno cognitivo amplo, envolvendo várias funções mentais. Na entrevista devolutiva, informar aos familiares a deficiência intelectual da menina e as restrições atuais (atividades escolares) e futuras (atividades profissionais) não foi uma notícia que gostaria de dar.
      Dois dias depois uma jovem de vinte e poucos anos, graduada numa universidade de referência nacional, diferenciada cognitivamente e independente financeiramente, demonstrou uma preocupante fragilidade emocional, com uma incipiente habilidade em lidar com a frustração. Apesar de bonita, fluente e inteligente, sua outra inteligência  - emocional - lamentavelmente contrastava e comprometia significativamente a qualidade dos seus dias, geralmente com desânimo e tristeza. Conscientizá-la da importância do acompanhamento psiquiátrico e psicológico e das restrições atuais (faltas no trabalho, socialização empobrecida, reduzida satisfação nas atividades) e futuras (agravamento dos sintomas e dos prejuízos) também não foi uma tarefa fácil. 
      Pessoas bem diferentes, com habilidades e dificuldades opostas, mas com significativas e dolorosas semelhanças - tanto para elas, quanto para os familiares; para os demais o que se espera é, pelo menos, solidariedade e, se for inteligente, alguma reflexão...


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