domingo, 1 de julho de 2012

Ganhamos!


     Extremamente cansado e rouco, cheguei há duas horas de uma viagem de três dias, junto com a família, onde acompanhamos o campeonato de handebol do nosso primogênito, em Estância, Sergipe. No retorno, enquanto todos dormiam, eu dirigia, procurando o que olhar às margens da rodovia, para espantar o sono que me rondava. Flash dos inúmeros jogos assistidos, da gritaria dos familiares na torcida, da final disputada hoje pela manhã e da premiação de campeão recebida me ajudaram muito a manter o foco na estrada. Sentindo ainda a alegria dos acontecimentos vividos, fui recordando o meu tempo de atleta: também jogador de handebol, lembrei de alguns torneios e viagens, da bagunça nos alojamentos, das partidas eletrizantes, das arquibancadas repletas, dos companheiros, das derrotas e das vitorias. Ótimas lembranças, de grandes e inesquecíveis momentos. De volta ao presente e faltando ainda algumas centenas de quilômetros para finalizar a viagem, comecei a pensar sobre algo que me deixou preocupado na competição: em vários times, o número de pessoas no banco de reservas era reduzido. Do nosso lado não era diferente e, até o goleiro, que disputou o torneio em duas categorias - juvenil e cadete -, não tinha um substituto. Se tivesse ocorrido uma lesão durante os jogos, os dois times estariam bem encrencados. Nos intervalos dos jogos, conversando com alguns atletas e pais, disseram que, em certas escolas particulares, o número de estudantes que participam de esportes está diminuindo. Uma triste realidade que, infelizmente, venho percebendo também em Maceió. Obcecados exclusivamente pela formação acadêmica, determinados colégios vêm colocando a prática esportiva como atividade de segunda classe, principalmente no ensino médio. Será que desconhecem que o exercício físico melhora o desempenho mental, como  a atenção, memória, orientação espacial e funções executivas, por estimular a sinaptogênese (formação de novas sinapses nervosas) e angiogênese (produção de novos vasos) em áreas cerebrais relacionadas com a aprendizagem, como o hipocampo? Sem falar do extraordinário aprendizado emocional que favorece, aumentado a tolerância à frustração e o controle da impulsividade, desenvolvendo estratégias para lidar com a ansiedade, aprendendo a trabalhar em equipe, respeitando normas e regras, mantendo-se persistente numa meta e suportando realizar tarefas repetitivas (disciplina).
      Proporcionar, estimular e valorizar a educação física e o esporte em crianças e adolescentes é enriquecer suas histórias com experiências, algo que vem faltando na vida destas pessoas, embora bastante fortalecidas de tecnologia e informações. Na família, sozinhos ou com um único irmão, não exercitam vigorosamente a conciliação e o espírito coletivo; alguns pais, muito ansiosos ou desinteressados, oferecem-lhes um ambiente familiar pouco desafiador e bem diferente do mundo lá fora; cada vez mais confinados em apartamentos, não exploram os espaços que os quintais disponibizavam; com medo da violência, não correm na rua, nem são premiados com as aventuras no bairro; com tanto entretenimento virtual, estão suando menos; na sala de aula, o professor vem progressivamente perdendo a autoridade e o comprometimento, deixando  os alunos sem referencial. Apesar do discurso que tal processo já ocorreu em vários países desenvolvidos (também com incremento de preocupantes alterações comportamentais), é importante analisar os ganhos efetivos de uma preparação escolar essencialmente informativa. A vitória então seria obtida não apenas com o acesso rápido a uma boa faculdade, através de um treino técnico exaustivo (informações), mas também com o desenvolvimento tático, incluindo habilidades de autoconhecimento, empreendedorismo e resiliência, fundamentais para um sucesso progressivo e sustentável. De que adianta preparar um aluno para ser exclusivamente um grande competidor em notas escolares, com uma exuberante musculatura acadêmica, fazê-lo subir o pódio de um concorrido curso e, após alguns anos, ele iniciar uma maratona de frustrações e limitações, envolvendo a impulsividade, ansiedade e depressão? Isso não quer dizer que o handebol, basquete ou a natação deixem o atleta inatingível física e mentalmente, mas que provavelmente - junto com outras atividades familiares, religiosas, sociais, culturais - enriquecerão a formação do indivíduo, conferindo a ele um repertório maior de experiências e conduzindo ao amadurecimento: esta sim, uma das maiores medalhas que podemos conquistar!

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