segunda-feira, 8 de julho de 2013

Manifestações: abram os olhos!

      Nas últimas semanas as manifestações populares que ocorreram nas cidades brasileiras ocuparam grande parte da programação televisiva. O que começou como reação ao aumento da passagem dos ônibus tomou outras direções, com variadas reivindicações: falta de prioridade no uso de verbas públicas, baixa qualidade dos serviços oferecidos à população, projetos de lei inadequados, etc. O que era para ser um evento pacífico terminou resultando em depredações e conflitos entre manifestantes e policiais. Embora atualmente em menor intensidade, durante vários dias os protestos foram, provavelmente, o assunto mais discutido nas empresas, famílias e entre amigos: todos tentando entender este amplo e raro fenômeno social ocorrido no país.  De uma forma geral, o que temos escutado são palavras de apoio às manifestações, porém com críticas aos atos mais agressivos em relação aos policiais (e vice-versa) e ao patrimônio, seja ele público ou privado. A pichação, destruição de placas e semáforos,  saques de lojas, o arremesso de paus e pedras nos policiais, uso de coquetel molotov para incendiar veículos, orelhões e prédios causaram indignação da imprensa e da população em geral.
      Neste mesmo período - não sei se pela presença das milhares de pessoas nas ruas e a imprevisibilidade do comportamento da massa, ou ainda pela proximidade das eleições (2014) - tem ocorrido um surto de consciência coletiva no poder executivo e legislativo, ensaiando algumas providências exigidas nas ruas: diminuição do preço das passagens, arquivamento de projetos de lei impopulares e colocação na pauta de votação de outros com benefícios sociais, idealização de uma consulta popular....Aqueles que até um mês atrás pouco (ou nada) enxergavam os reclames sociais, embriagados pela sensação de poder que os altos cargos propiciavam, repentinamente aprimoraram sua acuidade visual e desceram rapidinho as escadas da realidade. O interessante foi que praticamente todos os gestores falaram mais como um manifestante do que como um co-responsável pelas ausências do Estado. Faltou pouco para eles irem também para as manifestações, com cartazes nas mãos e as caras pintadas.
      Tirando esta quase manifestação dos gestores, de lá para cá já ocorreu a dos caminhoneiros, profissionais da saúde, professores universitários, moradores de conjuntos residenciais. Provavelmente virão muitas outras. Acredito - e torço - que estamos descobrindo a força da coletividade, formando multidões não apenas nos estádios de futebol e shows musicais, mas nas ruas, reclamando e intimidando os que assumiram o compromisso com o bem comum. Isso mesmo, intimidando! Não se trata de uma apologia à baderna e à anarquia, nem uma concordância ou incentivo à destruição ocorrida, mas da constatação do surgimento de um fenômeno comportamental coletivo, que apresenta tendências inevitavelmente primitivas e imprevisíveis. E com os recursos tecnológicos atuais, que estimulam a formação de grupos virtuais e a expressão de opiniões, dificilmente este comportamento social desaparecerá. Ao contrário, o que vemos no mundo são manifestações frequentes e com importantes impactos políticos. Então, aos representantes  do povo, um aconselhamento psicológico: embora estejamos no século 21 - sendo educados com valores morais e religiosos, rodeados de tecnologia em casa, no trabalho e nas relações, usufruindo de um ambiente com significativa liberdade de opção e expressão, tendo acesso constante a um volume imenso de informações -, a força e, consequentemente, o medo ainda fazem parte da essência humana, seja ela manifestada individual ou coletivamente. Por isso, abram os olhos, porque parece que a massa sentiu levemente o gosto do poder!

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