segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Desenvolvimento humano

     Nesta última quarta-feira, numa passagem rápida na casa de meus pais, após alguns minutos escutando  meu idoso relatar, escandalizado, as notícias da criminalidade do jornal da cidade, fui tentar identificar o problema com o telefone celular de minha mãe, que não funcionava. Quando desmontei o aparelho e peguei o chip na mão, o patriarca - uma pessoa naturalmente avessa a equipamentos eletrônicos - comentou espantado: "mas como pode algo tão pequeno conter tantas informações?!" Depois de rápidas elucubrações e dos cumprimentos me despedi deles, mas não da perplexidade do meu pai diante da crueldade e da genialidade humana. Fui embora com a desigualdade dos comportamentos humanos ocupando meus pensamentos.
      No decorrer deste dia as informações de centenas de mortos nos conflitos sociais no Egito, a eterna guerra entre palestinos e israelenses e o atentado no Líbano, de um lado, e a descoberta de novos  medicamentos para o câncer, a tecnologia empregada na extração do petróleo do pré-sal brasileiro e o início do recrutamento de candidatos para colonizar marte, de outro, fomentaram ainda mais a minha inquietação frente a condutas humanas tão díspares. É uma intensa e progressiva habilidade em compreender e manusear o ambiente externo, contrastando com um manejo rústico e desajeitado do ambiente interno. Modificamos paisagens, transformamos o dia e a noite, prorrogamos a morte, mas pouco alteramos nossa realidade subjetiva, e continuamos ainda reféns das nossas necessidades ancestrais (protagonizadas pelo prazer e poder).
      No oriente e no ocidente várias religiões e correntes filosóficas surgiram para nos disponibilizar reflexões e opções comportamentais mais refinadas - geralmente indicando as vantagens de se renunciar alguns desejos - mas, realmente, nossas inclinações pouco mudaram nos últimos milhares de anos. Talvez por isto muitos já perderam as esperanças na humanidade, percebendo-a perversa e condenada ao fracasso. Mas, se considerarmos a evolução das espécies, quantas mudanças biológicas ocorreram ao longo de 5 ou 10.000 anos num animal complexo? Como leigo, mas curioso no assunto, acredito que nenhuma.  No pouco que li e nos documentários a que assisti só me recordo de ter identificada a expressão "milhões de anos", e não milhares. Então como podemos esperar que mudanças estruturais do comportamento humano - que também implicam em mutações genéticas - aconteçam em breves milhares de anos?  E o que dizer da nossa pretensão de testemunhar tais transformações numa piscadela de 70 ou 90 anos da nossa efêmera vida?
    O tempo que vivemos é pouco para o muito que queremos. Mas se amenizarmos a nossa ansiedade, iremos identificar no horizonte o surgimento de um novo paradigma (principalmente em países com melhor qualidade de vida). Haverá um tempo - se não houver um possível cataclismo - em que a ignorância e o preconceito que temos contra a história filogenética da humanidade darão lugar à compreensão do processo evolutivo do comportamento humano. Assim poderemos realizar nossas escolhas com serenidade e lucidez, exercendo efetivamente o livre arbítrio. Mesmo sabendo que não estarei mais aqui quando lá chegarmos, comemoro só em imaginar.

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