domingo, 20 de novembro de 2011

Contágio social - segunda parte

      Após uma manhã ensolarada, com direito a banho de mar na bela praia do Francês, resolvemos almoçar uma saborosa peixada de arabaiana, acompanhada de uma deliciosa fritada de camarão, à beira da lagoa Mundaú. Ao final,  quando recebemos a conta do garçom, vieram também  alguns confeitos - para os estrangeiros, balas - e começamos a disputá-los, quando um dos amigos levantou a hipótese de que aquela doce oferta teria como objetivo  amenizar uma possível indigestão do pagamento. Nos despedimos, cada um tentando ainda convencer o outro da sua tese sobre as intenções do restaurante com aquele mimo. Chegando em casa, a fim de facilitar o atendimento a outra necessidade, pego uma velha revista Mente e Cérebro e encontro um artigo que me deixou peristáltico: uma pesquisa do psicólogo social David Strohmetz, em 2002 (Nova Jersey), realizada num restaurante, para verificar a relação entre a distribuição de doces com os clientes e o tamanho da gorjeta. Sem muita surpresa, o grupo que foi premiado pelo garçom com um bombom deu gorjeta com um aumento de, em média, 3,3 % em relação aos clientes que não receberam o doce; o segundo grupo que recebeu duas guloseimas aumentou suas gorjetas em  14,1%. No entanto, o interessante foi o crescimento de 23% demonstrado pelas pessoas que receberam um bombom e outro em seguida, após alguns instantes. Com o título "O poder da persuasão", o artigo também relatou a pesquisa de outro psicólogo  - Robert Cialdini (Universidade Estadual do Arizona) -, sobre a influência social, afirmando que tomamos os outros como exemplo quando não temos certeza do que fazer e que valorizamos a opinião dos que estão em posição de poder. Algumas páginas à frente, um estudo descobriu que, "quando um arrecadador de doações mostrava aos moradores uma lista de vizinhos que haviam dado contribuições para uma instituição de caridade, o número de contribuições aumentava significativamente; quando maior a lista, maior o efeito". Algumas dessas tendências já tivemos oportunidade de sentir ou observar em crianças, copiando comportamentos nem sempre adequados de colegas de escola, adolescentes imitando o jeito de vestir e falar de seus ídolos, adultos tomando algumas "decisões" semelhantes às pessoas do seu grupo, seja no vestuário, lazer, compras ou filosofia de vida, e até idosos numa velada disputa pelo ranking de caridades. Não é a toa que restaurantes, hotéis e outros presenteiam seus clientes, que empresas de marketing e propaganda continuam a expor celebridades ou multidões utilizando um produto ou  serviço. Será que somos então uns ratos de laboratório, limitados a fugir de uns estímulos e se aproximar de outros? Ainda acredito que não, e que temos a possibilidade de aprender a realizar algumas escolhas. A ciência, entretanto, tem fornecido evidências de que a capacidade de tomar decisões imparciais é menor que imaginávamos ou gostaríamos (até neurônios especializados em imitar o comportamento de outra pessoa - seja no movimento, na linguagem e nos sentimentos - foram identificados em humanos, denominados neurônios espelho. Estas células, espalhadas em várias regiões do cérebro, são essenciais à aprendizagem). Mas, quem sabe assim - considerando a real, inevitável e nem sempre consciente influência social - poderemos aceitar o confeito do garçom, assistir ao comercial condicionante e ouvir a estratégia do vendedor ou do orador e, com serenidade, aprimorar a liberdade de escolha.

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