terça-feira, 15 de novembro de 2011

Proclamação da família

      Desde domingo a imprensa vem divulgando mais um capítulo da terrível realidade social  do Rio de Janeiro, com a ocupação - pela polícia militar - de mais uma monarquia da droga, a Favela da Rocinha. No balanço oficial, apreensão considerável de armas (fuzis, mísseis, submetralhadoras, pistolas, granadas, espingardas), veículos, drogas (maconha, pasta base de cocaína, cocaína refinada, crack, ecstasy), e a descoberta de um  laboratório de refino de cocaína. É o resultado de décadas de omissão do Estado e dominação dos traficantes pela força, insegurança e medo, com o poder soberano de decidir, controlar e punir os moradores da favela . Segundo o secretário de segurança pública carioca existe um plano para o Rio de 40 áreas com UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Ele disse ainda que só na Rocinha serão 900 policiais na UPP. Com bem menos recursos econômicos e vontade política, nosso estado também se destaca quando o assunto é violência, com várias cidades alagoanas nas primeiras colocações no ranking nacional de homicídios por habitantes. A violência, irmanada com as drogas, tem sido uma das maiores preocupações da sociedade brasileira, e os seus cidadãos, como eu, inclinamo-nos a acreditar que a presença de policiais nas ruas amenizaria a situação. No entanto, observando as mudanças que vêm ocorrendo dentro das nossas casas, no ambiente familiar, talvez seja possível inferir uma correlação entre estes grupos sociais. Inicialmente, de maneira lúcida, é interessante considerar o aspecto evolutivo do ser humano, não só na dimensão física, mas também na psicológica. A mente, assim como o corpo, vem se adaptando a mudanças ambientais extremas há milhares de anos, desenvolvendo comportamentos que aumentem a probabilidade de sobrevivência da espécie, como a sexualidade e a agressividade.  Detalhe: o cérebro de que nossos antepassados dispunham há 100 mil anos atrás é praticamente igual ao meu e ao seu. Sendo assim, fisiológica e subjetivamente não faz muita diferença a ansiedade despertada ao andar na savana (há milhares de anos) e apresentar-se numa seleção profissional com outras centenas de pessoas.  Por mais que tenhamos conseguido modificar  a realidade externa, delimitando áreas, construindo cidades e equipamentos com alta tecnologia, manipulando seres, estabelecendo conceitos e regras, a realidade interna é a mesma, com os mesmos objetivos. Não se trata de justificar e se conformar com os atos inadequados a que assistimos diariamente nas ruas e nos noticiários, mas de compreender e aceitar que, de bicho e de gente, todos temos um pouco (alguns têm mais). Da criança com feições angelicais à doce vovozinha, do assassino ao homem santificado, temos todos tendências primitivas de buscar o prazer e agredir quem nos impede. São comportamentos universais (presentes em todo ser humano), mas que variam de intensidade e manifestação de acordo com as outras variáveis do comportamento humano - genética, fatores ambientais, sociais, maturidade. Com o processo da civilização, o homem precisou controlar e direcionar os impulsos agressivos e sexuais, e a família - primeiro grupo social - passou a ter novamente um papel decisivo nessa nova necessidade social. Nos últimos vinte ou trinta anos, entretanto, a família vem sofrendo modificações no seu formato e nas relações entre os membros. Coincidência ou não, a individualidade e a violência também se intensificaram neste período. Sem nenhuma pretensão saudosista, é urgente que consigamos distinguir o essencial do irrelevante na estrutura familiar, para que este ambiente continue a ser a maior possibilidade de aprendizagem do espírito coletivo e da consequente importância do respeito a algumas normas e regras para - como numa república - prevalecer o interesse de todos.

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