domingo, 4 de dezembro de 2011

Refazendo as malas

      Acabamos de chegar de uma viagem de Gravatá (Pernambuco), no Resort Villa Hípica. Com um imenso e bem cuidado gramado, repleto de pássaros, cavalos e vários outros animais, além de manhãs ensolaradas e noites suaves, refeições com novos e diferentes sabores, foram três dias de muitas brincadeiras para as crianças, atividades para a família e momentos para o casal, num ambiente de beleza, harmonia e conforto. Sem falar  das cantorias após o jantar, que eram como cantigas  de ninar, adormecendo gostosamente e nos conduzindo à cama. Sem dúvida foram dias que facilmente serão recordados no futuro, com uma agradável lembrança. Entre os inúmeros hóspedes do resort houve dois grupos que se destacaram: ao chegarmos encontramos uma turma de crianças, provavelmente num passeio de final de ano, acompanhadas dos professores, frequentemente gritando e correndo para cima e para baixo, com uma energia invejável, mas também com um palavreado e maneiras preocupantes. Quando estes foram embora, chegou o grupo de idosos, também bastante entusiasmados e alegres, sempre conversando, dançando, cantando e aproveitando o encontro com os amigos. Foi aí que me lembrei de outros dois grupos de idosos que encontro com certa frequência no consultório: aqueles pacientes que acham que a velhice é uma desgraça, que não tem nada de melhor idade  e que, de lucro, só as dores e problemas, e o outro grupo dos que afirmam da possibilidade de descobertas e novas experiências, da realização de antigas aspirações, da sensação de liberdade e vontade de viver. Mas afinal de contas a velhice é a melhor idade mesmo? Não sendo grande conhecedor dos aspectos subjetivos do envelhecimento, pretendo apenas fazer alguns questionamentos. Sempre vejo pais e responsáveis preocupados com a formação acadêmica de seus queridos, investindo em boas escolas, professores particulares, aulas de línguas, monitorando as amizades dos garotos e, quando necessário, encaminhando-os para psicoterapia e outros tratamentos. Tudo isto para torná-los profissionais competentes, capazes de resolver problemas de maneira eficiente, seja como advogado, médico ou engenheiro. Quando crescem, continuam a incrementar a própria formação técnica, realizando cursos de pós graduação - especialização, mestrado, doutorado. Ou seja, o sucesso na vida adulta depende da formação desenvolvida na infância e adolescência. E no envelhecimento também não seria necessário o desenvolvimento de competências? Quantos, durante a 1a. e 2a. idades, dedicam-se na capacitação para a 3a idade? Quais habilidades são necessárias nesta fase da vida? Diante do que venho acompanhando em pessoas nesta faixa de idade, arrisco-me a dizer que o envelhecimento também necessita de preparação, desenvolvida principalmente nas escolhas realizadas nas primeiras cinco décadas de vida e que poderão resultar na competência física (manter-se ativo e saudável fisicamente, através de uma alimentação adequada e atividade física regular), competência subjetiva (manter-se saudável emocionalmente, aprimorando estratégias para lidar com a frustração, raiva, medo e tristeza, resultantes das realizações - ou não - pessoais e profissionais) e competência existencial (identificar e aperfeiçoar o significado da própria existência, através do aprendizado nas experiências da vida, religião, leituras e reflexões). Fico na expectativa de que estas competências se desenvolvam, esperando intensamente conseguir avançar na velhice como um turista, fotografando os belos momentos, deletando os desnecessários, encontrando algumas coisas e pessoas, afastando-se de outras, mas lembrando sempre que é apenas uma viagem e que, inevitavelmente, retornarei...

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