segunda-feira, 22 de abril de 2013

A influência da vida moderna na qualidade dos relacionamentos



       A convite do meu irmão mais velho, estive no último dia 13 com um grupo de casais, que escolheu o título desta postagem como assunto do encontro. Ele também me pediu que incluísse na apresentação o uso dos recursos tecnológicos e das mídias sociais, percepção e uso do tempo, entre outras coisas atuais. O interessante é que também nesses dias vinha lendo a edição especial da Revista Mente e Cérebro, intitulada " O Segredo da Decisão", que descreve algumas pesquisas recentes de como realizamos as pequenas e grandes escolhas, seja no amor, na família, no trabalho, na vida social, na hora de comprar e na alimentação. No dia do encontro, após aguardar alguns minutos a chegada dos participantes - que foram transportados em modernos automóveis - e saborear um lanche com uma grande variedade de pratos - provavelmente proporcionado por sofisticados eletrodomésticos - iniciei a palestra solicitando que o grupo descrevesse a vida moderna. Correria, inúmeros equipamentos eletrônicos, comprometimento da interação entre pais e filhos, falta de tempo... Foram muitas as características atribuídas, porém todas negativas! As pessoas só relataram aspectos prejudiciais e inadequados do momento histórico que vivemos. Ninguém levantou a possibilidade de haver, na vida moderna, algo de benéfico ou adequado.
      Não há como negar o exagero contemporâneo - estimativas indicam que estamos expostos a 30 mil anúncios de tv por ano, 7,3 bilhões de emails comerciais (spam), além de uma quantidade avassaladora de informações jornalísticas e científicas, acrescida de uma infinidade de novos produtos e serviços constantemente oferecidos -, nem a dificuldade de se fazer escolhas em meio a uma oferta tão abundante. No nosso cotidiano não faltam situações que prometem prazer imediato, exigindo consequentemente uma maior capacidade de resistir a tentação e manter o autocontrole (a conhecida batalha entre o impulso e a reflexão; anjinho x diabinho). O problema, entretanto, é que o ato de refletir, em termos neurofisiológicos, é complexo, lento e dispendioso, o que já não acontece com a atitude impulsiva (que necessita apenas do "tico e teco"). Por isso somos mais vulneráveis aos desejos. E diante de tantos desafios e atividades que a modernidade nos impõe, o tempo e a disposição mental - fundamentais para a reflexão - são cada vez mais raros. Em relação a isto, a Mente e Cérebro destaca que "os impulsos influem mais em nosso comportamento quando dispomos de poucos recursos mentais para a reflexão". Um dos artigos da revista ilustra que é mais difícil para uma pessoa resistir a um almoço calórico após algumas horas envolvida numa entrevista de trabalho, do que se a manhã fosse menos sobrecarregada psicologicamente. Ou seja, a diminuição da reflexão - olhar para dentro - traz grandes prejuízos ao comportamento humano, pois compromete as metas de longo prazo, não só na reeducação alimentar, mas na aprendizagem em geral,  seja ela acadêmica, social, existencial. Na edição "O Segredo da Decisão" as pesquisas indicam que a reflexão é essencial para construir memórias e conferir sentido aos acontecimentos, assimilar valores morais e digerir o que foi aprendido. Diz ainda que preencher o tempo com tarefas como internet e tv atrapalha a dispersão natural e necessária do cérebro (crianças motivadas a desfrutar o tempo livre tem menos problemas de ansiedade, melhor desempenho escolar e demonstram melhor capacidade de planejar o futuro).
          Por outro lado, não há como negar também os ganhos que a vida moderna vem nos proporcionando, tanto no plano individual  como no coletivo: equipamentos que promovem a comodidade e o conforto sensorial, tratamentos mais eficientes para doenças, aumento da expectativa de vida, democratização do acesso a informações e serviços, encurtamento de distâncias, maior variedade de opções de trabalho, compartilhamento de idéias, mudança de paradigmas, interação e mobilização sociais... Neste contexto, a grande protagonista das modificações tem sido a tecnologia, que embora está geralmente associada a complexos equipamentos, significa essencialmente um jeito especial de se fazer algo ou um conjunto de técnicas e conhecimentos usados para resolver problemas ou, ao menos, facilitar a solução deles.
        Escrevendo esta postagem e lendo a definição de tecnologia foi que atentei para o maior desperdício de oportunidade no encontro de que participei: os casais que estavam presentes faziam parte de um grupo religioso (católico). Mesmo considerando o meu desconhecimento no assunto, poderia ter aproveitado o momento para arriscar a dizer que os ensinamentos de Cristo foram, provavelmente, o instrumento tecnológico de maior impacto na humanidade. Sua divulgação ocorreu numa época em que o padrão era ser impiedoso, amedrontador, hipócrita ou subserviente. Com a proposta de resolver problemas humanos, Ele apresentou a técnica e os conhecimentos com a mais alta tecnologia em inteligência emocional: através da palavra - e não da violência - demonstrou o que há de mais moderno na área do comportamento, ao ensinar a perdoar e amar ao próximo. Sendo assim, não precisamos temer as tecnologias, nem crucificá-las. Umas mais, outras menos, com reflexão podemos utilizá-las para proporcionar qualidade aos nossos relacionamentos. Porém difícil, às vezes, é entender o manual e seguir as instruções!

Nenhum comentário:

Postar um comentário